sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SUSTENTABILIDADE: PLANEJAMENTO E PROJETO SÃO NECESSÁRIOS

SUSTENTÁVEL É GASTAR PAPEL.

Por Fernando Forte*


Sustentabilidade pra lá, sustentabilidade pra cá. Muito se fala sobre o assunto, que está em voga em todas as áreas; do material que o dentista está usando até a possibilidade de se usar uma daquelas antigas e simpáticas sacolas de papel kraft no supermercado.

Ainda que boa parte de tudo o que é anunciado como “sustentável” não passe de enganação marqueteira, o fato do tema estar em alta é positivo no sentido em que conscientiza a sociedade para um problema grave e crescente na relação da humanidade contemporânea com o meio ambiente.

Das questões relacionadas à sustentabilidade, boa parcela está relacionada à construção civil, setor que responde por uma fatia expressiva do PIB brasileiro: cerca de 5,5% (R$ 2,9 trilhões, segundo o IBGE).

É claro que esse percentual não leva em conta tudo o que resulta da construção civil e sua relação direta com o projeto das edificações e com a questão da sustentabilidade: o tecido urbano, transportes, energia, água, resfriamento, aquecimento, etc. Com esse simples cálculo fica patente a influência da construção em tudo aquilo que concerne ao homem e na relação da cidade com a natureza.

O que, infelizmente, ainda não parece estar claro para a sociedade é que, para efetivamente conseguirmos alguma sustentabilidade na construção civil, são necessários projetos. Puro e simplesmente projetos. A idéia do projeto, do planejamento, do pensar antes do fazer, ainda não está realmente clara na cabeça da maior parte da população brasileira.

Os percalços que qualquer arquiteto sente em sua vida profissional é o sintoma mais banal dessa gravíssima questão. O arquiteto ainda é visto como algo supérfluo, quando não é confundido com um decorador. Já a engenharia é enxergada como uma necessidade para a execução da construção e não do planejamento.

Existem alguns projetos de prédios verdes (geralmente de ponta) ou protótipos que buscam melhorar muito a relação da sustentabilidade com as técnicas construtivas. Representam, no entanto, uma parcela ínfima se levarmos em conta a realidade cotidiana da construção civil.

No Brasil, em função do infeliz abismo social, boa parte da construção civil está relacionada à autoconstrução ou a construções muito simples. Ainda assim, um estudo realizado pela empresa de serviços imobiliários “Cushman Wakefield Semco” sobre o setor, em sete metrópoles do mundo, apontou São Paulo como a segunda cidade mais mal paga do mundo, perdendo apenas para Xangai. A disparidade é ainda maior se levarmos em conta que São Paulo, cidade brasileira que mais contrata arquitetos no País, paga melhor pelos projetos que outros municípios brasileiros.

Se existe uma etapa da construção em que não se deve economizar é justamente no projeto. Seu valor percentual em relação à obra é mínimo e, além disso, é ele quem determina o andamento de mais de 95% do restante empregado na construção. Isso sem contar que uma obra, quando bem projetada, resulta num produto melhor e mais valorizado, justificando o investimento após a conclusão do trabalho.

Resumindo: é simples concluir que economizar uma bobagem percentual justamente no fator que desenvolve, regula e resulta no produto final é simplesmente idiota e contraproducente, além de obviamente insustentável do ponto de vista ambiental.

É também uma ilusão imaginar que um arquiteto mal pago, sem um prazo adequado, irá realizar trabalho de qualidade que ainda leve em conta a difícil questão da sustentabilidade.

Não dá para pensar em sustentabilidade quando uma em cada três obras feitas no Brasil é jogada no lixo. No processo construtivo brasileiro atual, desperdiça-se 20% dos materiais de cada obra em entulho. Esse valor sobe para 30% se levarmos em consideração as correções na obra.

As causas básicas desse desperdício, segundo estudos feitos na área, são: a falta de especificação em projetos e a baixa qualidade dos materiais, da produção e do controle da execução.

Projetos cuidadosos seriam capazes de melhorar ou sanar os problemas em quase todos estes itens. A solução para os problemas só pode ser uma – conscientizar a sociedade da necessidade de planejamento e projeto. Nosso dever e desafio como arquitetos é disseminar a noção de valorização do projeto e do planejamento para que a sustentabilidade na construção civil não se atenha a algumas poucas obras, mas à maioria delas.

Nós arquitetos, precisamos ensinar que para realmente sermos sustentáveis, precisamos aprender a pensar longo e cuidadosamente antes de tomar uma ação. Precisamos ensinar que, antes de executar é preciso gastar papel. Muito papel.

(*)Fernando Forte - Formado em arquitetura pela FAU-USP. Professor de projetos da UNIP em 2007 e 2008. Colabora regularmente com a revista AU e site de tendências Chewing.


FONTE: http://floreserinfo.blogspot.com



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