segunda-feira, 10 de outubro de 2011

JAIME LERNER: Inovar é começar.



Publicado e extraído do site Planeta Sustentável.

"Inovar é começar - e não querer ter todas as respostas. Uma das coisas bonitas em Curitiba foi o compromisso com a simplicidade, foi não querer ter todas as respostas, pois não podemos ser tão prepotentes em querer tê-las. O planejamento da cidade é uma trajetória. Você começa, a população reage e corrige."
Jaime Lerner

O arquiteto Jaime Lerner passeava outro dia em Curitiba com seu neto Ben, de 7 anos. De repente, atrapalhou-se no caminho e revelou ao menino que estava perdido. Esperto, Ben estocou: "Puxa, vô, o senhor conhece todas as cidades do mundo e se perde na sua!"

A história, contada por Lerner para ilustrar a perspicácia do garoto, mostra também o crescimento de Curitiba. Na época em que Lerner se elegeu prefeito, em 1971, ela tinha três vezes menos habitantes do que o 1,8 milhão atual. Hoje, é a capital brasileira com maior número de automóveis por morador.

Poderia ser uma catástrofe social e urbanística, mas está longe disso. Os números mostram por que a capital paranaense é um caso raro dentro do país e atrai os olhares de arquitetos e urbanistas de todo lugar: taxa de alfabetização de 96% a partir de 10 anos de idade e luz e água corrente em 99,5% das casas.

Há cerca de 54 m2 de áreas verdes públicas por habitante, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC), que trabalha com o dado da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 12 m2 no mínimo.

O avô de Ben liderou as intervenções urbanas que geraram esse milagre. À frente da prefeitura por três vezes (e do governo do Paraná por duas), concebeu ambiciosos planos para sua cidade natal, levados à frente por seus sucessores: "Ele é o oxigênio de Curitiba. Tudo o que se vê e respira aqui tem um ar de Jaime Lerner", define o arquiteto e urbanista Luiz Masaru Hayakawa, parceiro em vários projetos. "Tem uma visão antecipada das questões físicas e estruturais do crescimento urbano, mas também possui um 'sétimo sentido' para enxergar as necessidades sociais e expor a importância da memória cultural, natural e ambiental de um povo e uma cidade", completa Luiz Hayakawa.

O arquiteto defende a tese da acupuntura urbana: "É uma ação local, pontual, que procura revitalizar uma área e auxiliar o planejamento". Como exemplo, cita o Ópera de Arame, em Curitiba. Em São Paulo, a reforma da Pinacoteca do Estado, o Museu da Língua Portuguesa e a Sala São Paulo, todos no centro.

O passo primordial dessa revolução foi o projeto para o setor estrutural, implementado no primeiro mandato de Lerner, na década de 70. Em 1966, ele já havia participado do desenvolvimento das diretrizes do Plano Diretor de Curitiba, que criou as bases para essa reforma: "Na época, estavam alargando as ruas no centro e destruindo a história", lembra.

"Nos movimentamos para evitar que isso fosse feito sem um plano." Ao assumir a prefeitura, Lerner e sua equipe puseram em prática um desenho urbano inovador, que evitava o crescimento desordenado da cidade e combatia a saturação de sua área central.

Entre as ações, estava o incentivo ao transporte público de massa. Um sistema chamado trinário separou em três vias paralelas a circulação de ônibus expressos, tráfego local e trânsito de longa distância.
Para recuperar o centro histórico, a tática foi afastar dali os automóveis e dar lugar às pessoas - assim nasceu o primeiro calçadão do Brasil, na rua das Flores. A ação enfrentou a crítica dos comerciantes, que temiam o declínio do movimento, mas a prefeitura efetivou a mudança em 72 horas, driblando a oposição. Deu certo: lugar dos mais frequentados hoje pelos curitibanos e turistas, mistura lazer e serviço em meio ao casario antigo bem conservado.

O projeto Câmbio Verde, de 1989, atestou a sensibilidade de Lerner para a questão social. Num momento de excesso de produção de hortigranjeiros, os agricultores da região metropolitana protestaram contra o baixo preço jogando comida fora. O prefeito comprou a produção excedente e a distribuiu às famílias carentes de favelas e assentamentos precários - em troca apenas de sacos de lixo reciclável.

Como reconhecimento de suas obras, o arquiteto recebeu em 1990 o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente: "Sem querer ser cabotino, acho que Curitiba apresenta o maior número de transformações positivas que aconteceram numa cidade. É uma referência no mundo todo", diz Lerner. "As transformações continuam, e esse desafio de inovação constante ninguém pode ignorar”.


FONTE:Site Planeta Sustentável.



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